Para quem comprou meu livro

Se você comprou o livro "I Ching - O Livro das Mutações" no sebo República, na Praça da República (ao lado da alfândega, nos contornos do terminal de ônibus) no centro histórico de Santos (SP), escrevo isso para você, afinal, este blog escrevi para auxiliar-te.

Meu caro (ou minha cara), maravilhe-se com os ensinamentos milenares do I Ching, escrito, segundo constam, por Fu Xi (伏羲), um lendário imperador chinês que teria lá governado em épocas remotas. É uma obra completa, abrangente numa profundidade metafísica e naturalista, onde os elementos destas duas carregam um simbólico valor adivinhatório para os métodos de divinação que essa obra pauta praticar.

Já ia me esquecendo, deixe eu me apresentar. Sou o Mestre Ku, ou Ku Shuju. Fui iniciado no estudo do I Ching ainda quando criança. Devia ter uns dez ou onze anos, instruído pelo meu pai, um imigrante chinês que se mudou para o Brasil após a Revolução Chinesa, mudando-se para Campinas, onde conheceu minha mãe e onde nasci e cresci. Tive uma vasta erudição em obras e textos clássicos chineses que meu pai trouxe consigo da China, mas estudar o I Ching tornou-se meu maior prazer para o intelecto. Minha formação profissional e acadêmica repercutem disso.

Atualmente, sou professor de língua chinesa em cursos de idiomas e ministro um curso qual ensino sobre o I Ching, sua filosofia e adivinhação. Possuo cidadania chinesa, então, costumo ir para lá ao menos uma vez por ano.

Fu Xi.

Comunicado: Comente e identifique-se, seja quem for que comprou o livro.

I Ching em PDF

Deixei disponível, logo abaixo, uma excelente tradução do I Ching para a língua portuguesa, publicada pela editora Pensamentos em 2006. Trata-se de uma versão traduzida direto da versão alemão feita por Richard Wilhelm, sinólogo responsável por uma das melhores traduções já feitas do livro para as línguas ocidentais, tendo ele feito sua versão traduzindo diretamente do chinês (confesso que não sei alemão para ler os comentários de Wilhelm no original, mas o I Ching em si, no original em chinês, já li).
                                 
        
A versão também apresenta um prefácio feito por Carl Jung, que era amigo pessoal de Wilhelm. Este, ao elaborar seus prefácio, mostra-se admirado com a técnica oracular do I Ching, tanto pelas coincidência de suas convicções como pelas coisas que aprendeu com ela. 

Ao meu ver, é a melhor tradução feita no português (sendo que as traduções desta versão feitas nas línguas inglesa e espanhola também considero as melhores nos seus respectivos idiomas), tendo o Wilhelm feito um excelente trabalho ao contribuir para a difusão desse saber milenar dos chineses no acervo literário disponível para nós, pessoas do Ocidente. Tudo bem, não se compara com o original chinês, mas ainda sim é um excelente livro.

Donwload em PDF:
files.artedaguerra.webnode.com.br/200001161-43851447e4/i-ching.pdf

Os hexagramas

Um hexagrama consiste na combinação de linhas do Yin e do Yang, ou, se preferir, de dois trigramas. Carrega significado divinatório, isto é, possui uma leitura referente à um evento futuro, adaptável de acordo a situação que pretenda prever. Por isso, cada linha deve ser lida, e depois, o significado de todas elas constituir o sortilégio.

Não irei descrever todos os 64 hexagramas possíveis, contudo, deixarei uma tabela deles abaixo e, logo em seguida, justificar o número de sessenta e quatro hexagramas:



O número total de sessenta e quatro hexagramas nada mais é do que uma questão de combinatória entre os oito trigramas. Sendo que são oito trigramas, e precisam de dois para formar um hexagrama sabendo que pode repetir o mesmo trigrama duas vezes, dá um total de 64 combinações possíveis entre eles.

Outro modo de se entender a formação dos hexagramas se deve pela construção dele individualmente, linha por linha, como se faz ao defini-las com as moedas, considerando as linhas do Yin e Yang. Como devem haver seis linhas, cada vez que se lança uma das moedas, suas duas faces permitem apenas duas possibilidades, e sendo que cada uma das três moedas é jogada duas vezes, multiplica-se as probabilidades de todas elas. Desse modo, multiplique dois elevado à sexta potência que o resultado de total de hexagramas possíveis será igual à sessenta e quatro.


Os trigramas

Arranjo do Céu Primordial.
Os oito trigramas representam elementos, que consistem em forças da natureza, que remete ao conceito cosmológico e metafísico tradicional da cultura chinesa:
Os opostos, embora divergentes, o Yin (阴) e o Yang (阳) formam uma totalidade em sua harmonia, remetente ao contraste entre Wuji (无极) Taiji (太極), respectivamente a infinitude e a finitude. 

Do Yin e do Yang derivam Taiyang, Shaoyin, Shaoyang e Taiyin.
▪ Taiyang (太陽) é o Sol, e é representado por duas linhas do Yang;
▪ Shaoyin (即少陰), que é representado por uma linha do Yang e outra do Yin;
▪ Shaoyang (少陽), que é representado por uma linha do yin e outra do Yang;
▪ Taiyin (太陰) é a Lua, e é representado por duas linhas do Yin.
Consistem, estes quatro, quase como que um trinômio do quadrado perfeito entre o Yin e o Yang. Deles, derivam os elementos que regem a ordem natural:
▪ Do Taiyang surgem o Qian (乾 - "Céu") e o Dui (兌 - "Lago");
▪ Do Shaoyin surgem o Li (離- "Fogo") e o Zhen (震 - "Trovão");
▪ Do Shaoyang surgem o Xun (巽 - "Vento") e o Kan (坎 - "Água");
▪ Do Taiyin surgem o  Gen (艮 - "Montanha") e o Kun (坤 - "Terra").

Desta genealogia entre os componentes do universo, se extraem os oito elementos da natureza, que formam o Ba Gua (八卦), e possuem valor simbólico para o I Ching:

Qián - Céu
 É aparentado como o Pai. Para representá-lo, usam-se três linhas sólidas. É um elemento caracterizado pela força, pela autoridade e sublimidade.

Kūn - Terra
 É aparentado como a Mãe. Para representá-lo, usam-se três linhas quebradas. É um elemento receptivo, adaptável e disponível à mudanças

Zhèn - Trovão
 É aparentado como o primeiro filho, o mais velho. Para representá-lo, usam-se duas linhas quebradas e uma sólida. É o elemento que contem a incitação e impulsividade.

Kãn - Água
 É aparentado como o segundo filho, o do meio. Para representá-lo, usam-se duas linhas quebradas com uma sólida no meio. É profundo, insoldável e resiliente.

Gèn - Montanha
É aparentado como o terceiro filho, o mais novo. Para representá-lo, usam-se uma linha sólida e duas quebradas. É rigoroso, quieto e coeso.

Xún - Vento
É aparentado como a primeira filha, a mais velha. Para representá-lo, usam-se duas linhas sólidas e uma quebrada. Representa suavidade, penetração e interioridade.

Lí - Fogo
 É aparentado como a segunda filha, a do meio. Para representá-lo, usam-se duas linhas sólidas com uma quebrada no meio. Personifica aderência, vivência e lucidez.

Duì - Lago
 É aparentado como a terceira filha, a mais nova. Para representá-lo, usam-se uma linha quebrada e duas sólidas. É intrínseca a alegria, a comunicatividade e expressividade.

Arranjo do Céu Posterior.

Linhas e moedas no I Ching

Para se efetuar os fins de adivinhação do I Ching, deve-se entender o significado das linha que tracejam os trigramas e, por conseguinte, os hexagramas. As moedas adequadas são ferramentas que, lançadas, a face qual cair indica se a linha será traçada inteira ou quebrada.

As moedas possuem uma parte de frente e a outra de atrás. A da frente representa o Yang, e isso indica uma linha inteira. Já a parte traseira representa o Yin, e logo, uma linha quebrada.
A parte de frente da moeda (à direita) e a parte detrás da moeda (à esquerda) representam o Yang e o Yin respectivamente.
Esta simbologia é comum por causa do preceito filosófico do Yin e Yang, presente na cultura chinesa. Os dois juntos representam a dualidade entre opostos, e ao mesmo tempo, a harmonia decorrente de sua coexistência, pregando que tudo possui um pouco de sua contradição (por isso os círculos branco e preto no Yin e no Yang).



Por tradição, são jogadas três moedas, mas pode usar duas ou até mesmo uma caso alguma seja perdida. O ideal é ter três, e joga-las duas vezes cada uma, estabelecendo uma fila entre as moedas, e daí traçar as linhas que cada face representar na respectiva sequência por você estabelecida. Ao fazer o hexagrama, consulte o I Ching e faça a adivinhação.

Introdução ao I Ching

O I Ching (易經), ou Livro das Mutações é o nome de um texto chinês antigo escrito, supostamente, pelo lendário Fu Xi, que é atribuído o primeiro Imperador da China datado de tempos imemoriáveis. O nome qual chegou até os dias atuais foi dado por Confúcio, sendo que antes a obra era conhecida apenas como I, que significa "mudança" ou "mutação" em chinês.

Carrega, em seu conteúdo, um caráter tanto metafísico quanto cosmológico, estabelecendo uma ordem de mundo, repercutindo influências no taoismo e confucionismo, as correntes de pensamento mais evidentes na China. Contudo, possui uma leitura também oracular e adivinhatória, tendo a leitura dos traços os elementos (trigramas), quando combinados (hexagramas), a disponibilidade de uma interpretação do futuro. Estes sortilégios foram de grande respeito até mesmo para os imperadores daquele povo qual possui o I Ching em sua cultura.

As moedas utilizadas para traçar as varetas surgiu posteriormente na Dinastia Han (206 a.C. — 220 d.C.), qual cada um dos lados representa um traço inteiro ou quebrado. Mais tarde, quando foi difundido no Japão e séculos depois no Ocidente, o uso destas moedas variou:
▪ Se usar apenas uma moeda, deverá jogá-la seis vezes;
▪ Se usar duas moedas, deverá jogá-las três vezes;
▪ Se usar três moedas, deverá jogá-las duas vezes.

O conceito de "mutação" no I Ching remete à própria noção de mudança para a cultura chinesa. Nela, o mundo não é mutável, e sim, há o que ser mudado nas coisas, e estas se modificam mas, ao mesmo tempo, a natureza mantem uma uniformidade. Logo, o choque entre a mudança e a permanência resultam na ordem do mundo qual deve ser respeitada, e à ser seguida no caso das mentes mais sábias.